Crítica: The Creator – Somos humanos porque buscamos um sentido na vida.

The Creator, ou A Resistência como chegou ao Brasil, é um filme dirigido por Gareth Edwards (Rogue One) e roteirizado por Chris Weitz em parceria com Gareth Edwards. Neste longa, vemos a história de uma guerra entre humanos e a Inteligência Artificial, capaz de criar seres muito semelhantes aos humanos. No meio desse conflito, acompanhamos a jornada de Joshua, um ex-combatente que aceita a missão de eliminar uma arma que pode decidir o futuro da guerra. Porém, ao decorrer da missão, ele percebe que a arma não era o que ele esperava, e Joshua precisa decidir se vai eliminá-la ou salvá-la, além de reencontrar sua ex-esposa que está desaparecida há muito tempo.

Gareth Edwards retorna depois de 7 anos do seu último filme para mostrar uma história humana sobre o que define o ser vivo, além da crueldade causada pela guerra na vida daqueles que pouco podem se proteger. A referência à Guerra do Vietnã aqui é muito clara: a NOMAD, uma organização americana, entra em conflito com a IA causando uma guerra sem precedentes. Assim como os Estados Unidos nos anos 70, a NOMAD decide que a IA são seus inimigos mortais e usa de todos os meios para vencer uma guerra injustificável. A discussão é muito objetiva quando os soldados da NOMAD enxergam esses seres como falsos, criando assim uma dessensibilização para seus atos.

Joshua no começo do filme também enxerga dessa forma, porém, ao perceber a importância que Alphie tem para a IA, busca de todas as formas deixar a criança viva, como se fosse uma redenção pelos pecados cometidos no passado. Gareth apresenta ao público um questionamento sobre o que é de fato a vida. Ora, se um ser respira como ser humano, fala como ser humano e sente como um ser humano, o que o difere de nós? Como podemos simplesmente definir o que é falso e o que é real? Todos esses questionamentos permeiam a trama e nos fazem torcer por Joshua e sua missão.

Mas o coração do filme está em Alphie, a criança vivida pela atriz Madeleine Yuna Voyles, que carrega em sua atuação uma sensibilidade ímpar que nos faz, como público, compreender que a vida é um conceito cada dia mais complexo e que todos merecem viver e ser livres. Sua jornada não é apenas salvar as IA da destruição, mas também salvar Joshua do destino sombrio. O paraíso aqui é um sonho, algo que os próprios personagens se questionam se são merecedores de tal bênção.

Joshua, vivido por John David Washington, é atormentado pelo seu passado e pela possível morte de sua esposa, interpretada pela atriz Gemma Chan. Ela é como um fantasma, atormentando o personagem e sendo sua bússola moral para a missão que ele deve seguir.

O filme é belíssimo. A fotografia feita aqui pelo brilhante Greig Fraser torna-se um espetáculo visual, algo que será admirado durante os próximos anos. Embora o ritmo atrapalhe um pouco o andamento do longa, podendo cansar o público ao decorrer do filme. Os vilões também não são os melhores que já vimos no cinema, mas cumprem seu papel como antagonistas. E a trilha feita por Hans Zimmer, embora não seja uma das mais marcantes do compositor, emociona quando é necessário.

The Creator demonstra que ninguém pode ditar quem pode viver ou não, e embora alguns possam não se encontrar no paraíso, todos nós só podemos de fato declarar que estamos vivos quando encontramos um objetivo, algo que nos move e traz um sentido para essa rápida existência. The Creator é uma grata surpresa em um ano sem Duna, sendo uma ótima opção para quem sente falta de ficção científica de qualidade.